Nesse dia 19 de setembro de 2019, 98º aniversário do nascimento do Patrono da educação brasileira, o blog apresenta um dos mais novos aprendizes de Paulo Freire.
Entrevista ao professor Erivan Alonço da Costa.
Blog: Você concorda com esses cortes na educação do Brasil?
Veja bem. O dinheiro investido em educação no Brasil é o suficiente para termos uma educação de bom nível universal. Porém se perde muito em burocracia e falta principalmente em merenda escolar. Temos neste século uma clientela das novas tecnologias, mas o governo insiste em gastar um absurdo com livros didáticos impressos. É um dinheiro que compraria computadores para todos os alunos com 1000 vezes os conteúdos que estão naqueles livros. Parece-me uma má vontade. Consultemos os alunos e eles nos dirão isso. O governo federal diz que corta do superior para investir na base, porém há uma insegurança constante sobre essa real intenção na prática.
Blog: Na educação de Florânia houve cortes durante o tempo em que você tem sido educador?
Não temos algo parecido posto que Florânia apenas mal cuida do nível fundamental. No entanto, a prefeita recentemente cortou uma ajuda de custo para professores que moram distante das escolas rurais sem conversar com esses professores. É esquizofrênico esse ato, pois a prefeitura faz testes nas escolas para obter dados de melhores rendimentos. Como pode ter melhores rendimentos com professores tristes e desapontados com uma gestão esquizofrênica? Coisa rara é conseguirmos veículos para viagens de estudos com alunos.
Blog: A formação do professor é boa no Brasil?
Nunca foi. A formação de professores no Brasil mais parece um fascismo em trajes civil, como afirma Umberto Eco em seu livro “Ur-Fascismo”. É um culto e sempre foi ao tradicionalismo. O professor entra na faculdade cheio de boas intenções e sai, na maioria das vezes, um papagaio. Como afirma Schopenhauer, sai um pensamento único: professor de disciplina X só pode dar aulas de disciplina X, jamais pode ser um educador de todos.
Blog: O que você acha do Patrono da Educação brasileira?
É um título merecido. É o maior cientista da educação da história da América Latina. Pena que a esmagadora maioria dos professores brasileiros teve e tem uma formação que nega Paulo Freire. Pergunte à sua volta, aos professores que você conhece, quem comunga com a luta de Paulo Freire e você vai ver que são o mínimo. E desses, alguns são superficiais. Sua formação lhes trai.
Blog: O que precisa mudar na educação brasileira?
A formação de professores. E, para aqueles que já são formados, que reflitam sobre suas práticas. Por que seus alunos não aprendem? Quais as reais atribuições do professor? E que passem a ter consciência e gerir uma formação independente, principalmente baseada na luta do Patrono da Educação; a partir dos alunos, ser o protagonista da mudança.
Blog: Por que se diz que professor é uma profissão sofrida?
São muitos os fatores. Primeiro a política criminosa que sempre judiou do Brasil, manipulando as massas carentes de consciência política. Segundo, os formadores de professores que aceitaram o fazer como o fizeram. Terceiro, a falta de reflexão dos educadores da educação básica. Entre outros.
Blog: O que você pensa sobre a BNCC?
É um texto incrível. Porém, como é freiriana, não será implantada tão fácil como se pensou. Professores não freirianos, que são a maioria esmagadora no Brasil, estão esperando a verticalidade: que venham as ordens.
Blog: Os professores brasileiros acreditam na educação transformadora?
Não. Apenas a minoria acredita, aqueles que são esperançosos. Para a maioria, o Brasil não tem jeito. A maioria dos professores brasileiros não sabe refletir sobre suas práticas. Não sabe a diferença entre condicionado e determinado.
Blog: Quais os maiores problemas da educação brasileira?
Agora lembro uma coisa engraçada. O jogo das síndromes. Síndrome da Gabriela, síndrome do pensamento único e síndrome do vira-lata. O professor José Pacheco, português, fundador da Escola da Ponte em Portugal, veio para o Brasil há mais de dez anos abrir os olhos dos brasileiros. Ele cita essas síndromes alertando-nos para nos livrarmos delas. Acho que é a saída.
Blog: O que é uma boa escola?
Como dizia Rubem Alves boas escolas são aquelas que são asas. Escolas não podem ser gaiolas. Alunos precisam de liberdade e autonomia para criar. O professor Agostinho da Silva dizia pelo Brasil: o homem não nasceu para trabalhar, nasceu para criar. Porém, a maioria das escolas brasileiras não deixa seus alunos livres para criar. Ora, entendo que o trabalho é simplesmente parte do processo de criação.
Blog: O salário do professor é bom?
Para o Brasil atual, sim. Digo aos alunos que, no dia em que eu conseguir zelar para que todos aprendam eu irei à secretaria do estado e à prefeitura cobrar um salário melhor. Ganho para que todos aprendam.